Patrono da Cavalaria Portuguesa

 

Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque, nasceu a 12 de Novembro de 1855 na Quinta da Várzea, concelho da Batalha, Leiria, filho de José Diogo Mascarenhas Mouzinho de Albuquerque e de Maria Emília Pereira da Silva e Bourbon.

A 23 de Novembro de 1871, assenta praça como voluntário no Regimento de Cavalaria Nº 4, com apenas 16 anos de idade.

Seguidamente ingressou no Colégio Militar da Luz, terminando o curso na Escola do Exército em 1878, sendo promovido a alferes.

Estava então Mousinho lançado na carreira militar ,

No ano seguinte matriculou-se nas Faculdades de Matemática e Filosofia da Universidade de Coimbra, tendo aí casado com sua prima, D. Maria José Mascarenhas de Mendonça Gaivão. Em 1882, Mouzinho de Albuquerque adoeceu, facto que o impediu de frequentar o 4.º ano da Universidade e o obrigou a regressar a Lisboa, onde permaneceu dois anos em inactividade. No ano de 1884 foi promovido a tenente e nomeado regente de estudos no Colégio Militar.

Dois anos depois, partiu para a Índia, ocupando um lugar na fiscalização do Caminho-de-Ferro de Mormugão e, em 1888, foi nomeado secretário-geral do governo do Estado da Índia. Em 1890, foi promovido a capitão e nomeado governador do distrito de Lourenço Marques, cargo que ocupou até 1892, altura em que regressou a Lisboa.

O ano de 1894 marca o regresso de Mouzinho de Albuquerque às colónias, desta vez comandando um esquadrão de Lanceiros que se iriam juntar às forças de expedição militar que tinha por objectivo dominar as rebeliões indígenas no sul de Moçambique.

Foi aí que Mouzinho de Albuquerque se destacou nas campanhas de África, nomeadamente a que levaria à prisão do chefe vátua Gungunhana em 28 de Dezembro de 1895, em Chaimite. A 11 de Novembro de 1895, as tropas comandadas por António Enes, entre as quais se encontrava Mouzinho, tomaram e incendiaram Manjacaze, a residência principal de Gungunhana, levando à fuga deste.

Após uma temerária marcha de três dias em direcção a Chaimite, as tropas conduzidas por Mouzinho cercaram a povoação, prendendo o chefe vátua e grande parte da sua família, forçando-o a entregar mil libras em ouro, oito diamantes, armas e munições e todo o gado e marfim de que dispunha. Contudo, os relatórios dos outros militares que participaram na campanha, em particular de Soares de Andrea, indicam que Mouzinho sabia da decisão de Ngungunhane de não oferecer resistência, o que de facto se verificou.

No dia 6 de Janeiro do ano seguinte, Gungunhana e os restantes prisioneiros foram entregues, oficialmente, em Lourenço Marques, por Mouzinho de Albuquerque ao governador-geral da colónia para, dias mais tarde, serem enviados para Lisboa por ordem expressa de Jacinto Cândido da Silva, então Ministro da Marinha e Ultramar.

Depois daquele êxito militar, que granjeou numerosas manifestações de apoio em Portugal e ampla cobertura na imprensa internacional, Mouzinho de Albuquerque foi nomeado governador-geral de Moçambique, a 13 de Março de 1896, tomando posse a 21 de Maio. A 27 de Novembro, do mesmo ano, foi nomeado Comissário Régio.

Depois de comandar, durante o ano de 1897, as campanhas de ocupação colonial de Naguema (3 de Março), Mocutumudo (6 de Março) e Macontene (21 de Julho), Mouzinho de Albuquerque partiu para Portugal, a 18 de Novembro, com o intuito de resolver, pessoalmente, com o governo de Lisboa questões relacionadas com a administração e o desenvolvimento económico da colónia de Moçambique, nomeadamente a concessão de um empréstimo que lhe permitisse proceder a algumas reformas.

Chegou a Portugal a 15 de Dezembro de 1897, tendo sido recebido de forma muito calorosa. Após algum tempo de repouso, viajou pela Europa (Inglaterra, França e Alemanha), onde foi orador convidado em diversas sociedades de geografia, em palestras que receberam grande cobertura pela imprensa.

A 22 de Abril de 1898, regressou a Moçambique sem levar qualquer resultado prático da sua presença na Metrópole, mas em Julho do ano de 1898, Mouzinho de Albuquerque recebe, finalmente a notícia de que tinha sido concedido o tão esperado empréstimo. No entanto, no mesmo dia, foi informado de que tinha sido decidido, a 7 de Julho, o fim das suas funções como Comissário Régio, o que o levou a apresentar, de imediato, a sua demissão, aceite pelo Presidente do Conselho, José Luciano de Castro, a 19 de Julho.

Mouzinho de Albuquerque voltou, então, a Lisboa sem ter realizado aquilo a que se tinha proposto, apesar de ter conseguido implementar algumas obras de fomento, bem como um importante impulso às receitas públicas, em boa parte através da imposição de pesados tributos sobre os povos locais, o que seria fonte de grandes conflitos e numerosas revoltas nos anos imediatos.

Foi nomeado, a 28 de Setembro de 1898, ajudante de campo efectivo do rei D. Carlos I de Portugal, oficial-mor da Casa Real e aio do príncipe D. Luís Felipe de Bragança. A sua posição crítica face à política e aos políticos da sua época e os rumores sobre a seu comportamento desumano durante as campanhas em África, levaram a que fosse progressivamente ostracizado e envolvido num crescente clima de intriga. Incapaz de, pela sua própria formação militar rígida e pelo feitio orgulhoso, de resistir ao clima de intriga, de indecisão política e de decadência em que a monarquia agonizava,

Em 1902, Mousinho morre em Lisboa.

O suicídio do herói das camapnhas africanas causou profunda comoção. Raul Brandão reflete nas suas memórias, esse sentimento: «Mouzinho de Albuquerque suicidou-se porque não pôde desempenhar neste país um grande papel político. Trouxe de África um sonho desmedido de um Portugal maior e julgou encontrar no Paço e no Rei o apoio necessário para o realizar. Deparou com os políticos e a Côrte, com a força obstinada e cega da mediocridade e da inércia. Havia de acabar dominado pelos homens, que não são santos nem heróis. Foi a realidade que lhe fracturou o crânio, por incapacidade de se submeter à mentira do Paço e da vida. No Paço todos me tratam bem, dizia ele. A Rainha faz-me a honra de ser muito minha amiga, mas o meu meio não é aquele. Se as circunstâncias aparecerem, safo-me outra vez para África ou para a Índia. Chegamos ao nó da acção. Mousinho era um soldado com o sonho de uma Pátria a realizar. Se o pudesse resolver com um destes golpes de decisão e de audácia em que se joga o destino e a vida, e que exigem exaltação e ao mesmo tempo serenidade, Mousinho teria subjugado os acontecimentos e os homens. Caiu num meio em que o triunfo só se alcança com astúcia, em que os nervos se gastam todos os dias, em que o cérebro se há-de, por força, amoldar à mediocridade alheia, em que é preciso fingir, sorrir e calcular cada paço no chão movediço. Dum lado, a mentira e a fórmula e, dum outro, um orgulho desmedido, uma decisão rápida e um sonho de glória. A morte de Mousinho está explicada neste descalabro dum criador de heroísmo incompreendido e inutilizado.»

 

"No ano de 1961, sendo Ministro do Exército o Senhor Brigadeiro Mário José Pereira da Silva, houve sua Excelência por bem, por despacho dado aos 22 dias do mês de Maio sobre proposta formulada pela Direcção da Arma de Cavalaria, mandar considerar como Patrono da Arma de Cavalaria Joaquim Augusto Mousinho de Albuquerque, herói de Chaimite, e consagrar como dia da Arma de Cavalaria a data gloriosa de 21 de Julho, aniversário do combate de Macontene."
( Ordem do Exército nº6, Iª série, de 31 de Maio de 1961)