Coisas da Cavalaria.

 

JUÍZO SOBRE A CAVALARIA EMITIDO POR UM INFANTE

" Dos pesados cavalos de armas que levavam os cavaleiros de Bouvins aos veículos de lagartas dos nossos modernos dragões, há vários séculos de esforços preserverantes na busca de uma maior velocidade e de um raio de acção mais extenso.

Dos impetuosos choques em que os corações batendo sob a armadura, os braços manejando lança e espada, decidiam a vitória, até às rígidas disciplinas do combate a pé, em que as metralhadoras e o canhão desempenhavam o papel principal, há um abismo que a Cavalaria não hesitou em ultrapassar para seguir mantendo a sua reputação. Também nesta forma de combate a Cavalaria afirmou o seu valor e a confirmá-lo estão os êxitos de Ysert, Kemmet e do Piemont.

Qual o sucesso de tão surpreendente vitalidade? É que, apesar da sua constante evolução, a Cavalaria conservou intacto o seu espírito.

Este espírito vem-lhe, em primeiro lugar, da sua ligação com o cavalo. A necessidade de dominar a todo o momento uma vontade viva de reacções bruscas e de várias espécies, dá ao Cavaleiro mais modesto, a audácia, a flexibilidade, o golpe de vista, a decisão rápida e o desprezo pelo perigo.

São estas qualidades que ela explora no campo de batalha. Habituada a amplos horizontes, a situações imprevistas e instáveis, o olhar e a inteligência sempre alerta, viu com naturalidade desenvolver-se nela a iniciativa, o amor pela acção. o espírito ofensivo.

Orgulhosa da sua missão secular de protecção às outras armas, considerando normal e justo o ser a primeira na ofensiva e a última na retirada, impôs-se como obrigação a abnegação e o sacrifício.

Por último, a todas estas virtudes soube juntar uma mais. Dos seus antepassados, os Cavaleiros conservam o sorriso, a simpatia, o amor pela glória, que em circunstâncias mais críticas, dá às suas acções uma nota particular de elegância e de nobreza.

EM SUMA É DE TUDO ISTO QUE É FEITO O ESPÍRITO CAVALEIRO."

( Marechal Pétain - 1931 )


... O cavalo, ensinou-me a ter medo e a vencer o medo; o cavalo ensinou-me a descontrair-me perante o meu nervosismo; o cavalo desenvolveu, em mim, a noção de prudência e de medida, obrigando-me a tentar acertar a sua passada antes de corrermos o risco do obstáculo; o cavalo ensinou-me a cair e, com ele aprendi, sobretudo, a levantar-me firme na determinação de continuar o percurso, fosse qual fosse a dor e o esforço que ele custasse; no exercício da equitação aprendi quanto é necessária a firmeza no mando e como esta requer o ser discreto na intervenção e suave no comando. Por tudo isto, a equitação não é apenas um exercício físico pois que tanto contribui para formar em nós o hábito do auto-domínio, a noção da modéstia das nossas forças e dos nossos conhecimentos, a paixão de corrermos o risco, sempre que possivel calculado. Como dizemos na cavalaria, o cavalo ensina-nos a ter coração...

(José Correia d'Oliveira)